quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Investir no Rap

Esses dias, um conhecido meu me parou na rua pra dizer que gostou de algumas músicas minhas que ouviu. Falou pra eu investir no rap, que eu tenho futuro. Fiquei todo felizão e agradeci os elogios. Na real, as coisas não são tão simples, assim. Sou pai de 2 filhos. Invisto no rap e vou viver de que? Gosto de rap, tento me aperfeiçoar como DJ, canto e até escrevo. Mesmo num estudiozinho meia-boca, consigo arrancar elogios ou críticas. Suponhamos que eu grave um som em estúdio com auxílio de um produtor. Vai custar “x”. Depois de pronto, jogo este som na net ou pago 1 mês pra tocar na 105. Quanto isso tudo vai custar? Será que terei um retorno financeiro, para cobrir o custo? Quantos grupos que fazem um rap de qualidade não ficaram no anonimato porque não tiveram dim dim pra poderem tocar no rádio? Até 2004, quando a politicagem de minha cidade passou abraçar o rap como ferramenta de ganhar votos, eu ainda tinha planos de investir no rap. Daquele ano pra cá, surgiram dezenas de grupos de rap (gente que nem conhecia o rap tava fazendo rima e subindo nos palcos). Eu ficava envergonhado de ouvir as besteiras que aqueles rappers inexperientes cantavam ou falavam nos microfones, mas quem era eu pra falar algo contra? Ninguém me ouvia. Tudo era festa, pra eles. Passaram as eleições e as máscaras daqueles políticos caíram por terra. Mostraram a sociedade um movimento de imaturos rebelados dispostos a cortar o próprio pulso em troca de farinha e pedra. Acabaram com a pouca moral que o rap tinha na minha cidade, que já tava bastante em baixa, devido aos aventureiros de bombeta e lata. Até eu fui confundido com bandido por estar correndo com quem não tinha o mesmo objetivo que o meu. De 2004 a 2006, a situação piorou mais e eu nem era mais convidados para os eventos. Fui tirado de palpiteiro, “zé blá blá blá”. Talvez se eu tivesse envolvimento com o crime, seria mais aceito. Passaram-se 3 anos e o rap, em minha cidade, continua sendo confundido com o funk carioca. As dezenas de grupos daquela época de festa, nunca mais ouvi falar. Cada um deles tomou um rumo na vida. Alguns constituíram família, enquanto outros se afundaram no crime com o tráfico, assaltos e assassinatos. Ouvi dizer que alguns ainda cantam rap, mas falta disposição para mostra serviço. Muitos me perguntam quando vai ter outra festa de rap em minha cidade. Eu digo que, se depender de mim, vai ser difícil. Nunca ganhei 1 cesta básica (gratidão) fazendo eventos beneficentes e ninguém, nem os “manos”, tão a fim de pagar 5 contos para ir a um baile rap. Infelizmente o crime continua falando alto, quando o assunto é hip-hop ou rap, em minha pequenina cidade.

Na última festa de rap que teve por aqui, quando cheguei com meus filhos, de fora já se sentia o cheiro de fumaça. Nem entrei. No ano passado, num evento em Minas, fui apresentado para um grupo de gangstas onde alguns dos integrantes faziam parte de uma quadrilha de seqüestradores de órgãos.Tinha muita criança no local. Será que dá pra investir?

7 comentários:

Kall disse...

Ta imbassado mano. Quantos caras bons eu conheci nas correrias no mundão que falavam e que ja estavam pra gravar umas faixas e eu nunca mais voltei a ouvir enquanto outros grupos q só falam merda, estão aí todo ano lançando CD novo. Fazia uns dois anos que eu não ouvia Rap na radio 105 esses dias fui ouvir e tava tocando as mesmas musicas de anos atras.

Deí disse...

O famoso jabá tá acabando com o rap de qualidade na 105. Qualquer 1 q paga uma mensalidade lá tem seu som incluso na programação.

d'j j.r disse...

salve deí!!!So quem viveu nesse esquema do rap sabe o que passamos,correria,sol,chuva,carregando cases de vinil e toca discos pra cima e pra baixo.Sera que valeu a pena?Acho que sim,aprendemos algo,nos tornamos djs de verdade,conhecemos pessoas do meio,mas infelizmente,viver do rap aqui,é impossivel!!um abraço irmão...

Deí disse...

com certeza.

prá somá disse...

infelizmente sua cidadezinha ñ é a unica a tá ingrupida,o unico lucro q o rap pode trazer hoje é o da revolução na mente da mulecada,um trampo q a cada dia fica mais dificil,a maioria dos cara "e minas" q tão se envolvendo é pra corre financeiro "pessoal".O que fica facil d+ pra quem tem uma moeda,pois uma melodia "agradavel" esta ao alcance de qualquer um,letra já dexo de ser motivo faz tempo...,e o social du bagulho?dificil até achar alguém q descreva...

Deí disse...

podcre.

Unknown disse...

salve Dei, me identifiquei muito com seu artigo, recentemente estive envolvida na gravaçao de um cd de rap independente. Os caras sao muito bons, tem conteudo, originalidade. Infelizmente os q se dizem defensores do rap sao os primeiros a criticar pois o som visa a coscientizaçao e nao o rap gangsta. Mas o trampo ta ai Plano B Rap, ta na net, tenho o maior orgulho.Chega pra somar? Que piada! Mesmo assim força pra noiz, salve mano!